terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A Fenomenologia do Terremoto transformada em Arquitetura

Por Vitor Halfen

 Em 27 de fevereiro de 2010, um terremoto de 8.8 graus atingiu o Chile e provocou a morte de mais de 700 pessoas. Recém chegados à capital Santiago, os intercambistas brasileiros Diego Ramos, Lucas Ramos e Paula Cristina Silva sentiram na pele os efeitos e as grandes dificuldades enfrentadas por todas as vítimas do tremor. Nas mãos dos três esse rico arsenal de experiências se transformou, ao longo de quase um ano de atividades acadêmicas na Universidad de Chile, em um projeto de readequação dos espaços públicos para que ofereçam suporte à população durante catástrofes como a desse ano.


Segundo Diego, a idéia inicial do projeto nasceu da vivência coletiva na noite do terremoto na Plaza de La Constitución, no centro de Santiago, local para onde os habitantes convergiram em busca de informação, comunicação e contato com outras pessoas. “A gente passa a vida inteira buscando o nosso espaço, o nosso piso e quando acontece uma catástrofe o que a gente mais quer é estar em um espaço coletivo, em terra firme, pra compartilhar as nossas experiências e ver que não é só a gente que está passando por aquilo.”

O projeto, intitulado Espacio T, prevê diretrizes gerais para remodelação dos espaços urbanos como praças e pontos de reunião e seus entornos próximos, aplicando conceitos formulados através de uma abordagem fenomenológica da experiência do terremoto, como proteção, segurança, comunicação e coletividade. O objetivo é criar áreas públicas informativas e de fácil leitura espacial, que estabeleçam articulações entre os diversos pontos de aglomeração e organizem os fluxos que convergem para eles. A intervenção proposta foi na Plaza Brasil e sua respectiva área de influência.
Inicialmente desenvolvido em sala, o projeto ganhou apoio de professores e colegas, o que encorajou o trio a inscrevê-lo no concurso para estudantes lançado pelo Grupo CHC com o apoio do governo chileno, sob o tema “Repensando o espaço público e seu equipamento sanitário”. Espacio T foi premiado com o terceiro lugar no concurso e irá participar da XVII Bienal de Arquitetura do Chile.

O reconhecimento que esse trabalho obteve chamou a atenção da Universidad de Chile para o fato de alunos estrangeiros serem premiados com um trabalho dentro da temática do terremoto – intimamente ligada à identidade nacional chilena – e motivou a faculdade de arquitetura a convidá-los para discutir o valor da experiência de intercâmbio e a propor que se multiplique a freqüência com que ocorre essa troca. Para Diego, Lucas e Paula, os chilenos deixaram claro que esperam de braços abertos cada vez mais estudantes brasileiros.

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